terça-feira, 15 de junho de 2010

A Felicidade

Por João Paulo Cuenca
Felicidade é quando nossos pés descalços afundam na areia, e nos beijamos nos lábios, e afundamos nossos corpos um contra o outro num abraço incondicional, e chove forte sobre as nossas cabeças e as gotas são esferas de vidro com recordações do que ainda não vivemos, e as gotas se transformam em asas de gaivotas que rasgam o horizonte, e não há culpa sobre os nossos ombros quando eu olho para você e enxergo outras, quando você me vê e eu sou vários, e a combinação infinita entre esses milhões de casais que moram dentro dos nossos olhos caminha até o mar quente que nos envolve em ondas, e nos molha a todos, os vários de nós dois entrelaçados em combinações improváveis, até que nos encontraremos no ponto onde seremos juntos algo que não sou eu e que tampouco é você.
E então, sob a luz de um amanhecer cor de sangue, atravessaremos o oceano em queda livre, e após retorcer o eixo do mundo com a ponta dos dedos, teremos o céu sob os pés descalços, e as cidades do Planeta Terra serão pequenos pontos de luz abaixo do nosso vôo, nossos sorrisos iluminados como que por fogos de artifício à medida que nos encaramos sem volta, confortáveis em haver perdido o caminho de casa, quando passado e futuro serão termos sem significado, por que só haverá (há) o presente, o instante agudo onde as órbitas dos seus olhos se refletem nas minhas, e vice-versa, como uma multidão de espelhinhos, até que esses planetas livremente se alinhem como reflexos em oposição numa reta perfeita - e nenhum de nós, nunca mais, precise mentir um para o outro.